Ambientalismo, Egocentrismo e Antropocentrismo
Basta um novo terremoto, vulcão ou tempestade para que
passemos novamente a ouvir que o planeta está se vingando de nós.
Tal afirmação normalmente possui um caráter ambientalista
e apresenta como vícios de origem o egocentrismo e o antropocentrismo, pois
representa certo tipo de cosmologia que entende que tudo acontece no mundo
apenas como uma resposta para o ser humano ou para indivíduos humanos
específicos.
Ainda que essa afirmação possa expressar alguma boa
intenção (tentativa de criticar a postura humana contra o planeta), ela reforça
a causa de muitas das más condutas dos humanos sobre a Terra, ou seja, a
prática de se entender o planeta como algo que existe por causa e para a
humanidade.
Trata-se de uma imposição ao planeta de uma espécie de
mente humana, que pode ser, por exemplo, vingativa, ou seja, uma espécie de
humanização do planeta e, portanto, uma subjugação do planeta ao modo de ser de
apenas uma de suas espécies. O planeta, como se fosse um indivíduo pensante,
nos analisa e nos pune, usando suas mais pesadas energias para isso. Nessa
cosmovisão, o planeta passa a ser um ente consciente focado nas ações humanas,
e os humanos, assim, passam a ser o centro do mundo, com toda a natureza
ocorrendo em sua função.
Dessa forma, discursos ambientalistas podem reproduzir uma
cosmovisão errônea e potencialmente geradora de destruição ambiental e opressão
dos animais.
Há poucos séculos, conseguimos avançar de uma visão
geocêntrica para uma visão heliocêntrica e, depois, aceitamos que nosso Sol é
também mais uma estrela dentre bilhões de nossa Galáxia que, por sua vez, é,
também, mais uma dentre bilhões (talvez dois trilhões) de galáxias. Contudo, os
mais pesados de nossos centrismos permanecem: o antropocentrismo e, mais ainda,
o egocentrismo, que lhe é correlato, mas mais forte.
Nosso egocentrismo é tão forte que nossos códigos morais,
mesmo quando bem intencionados, consideram apenas aqueles que são parecidos
conosco como seus merecedores: os humanos. Mais além, entre os humanos, é comum
ver-se aqueles que mais se parecem conosco (fisicamente ou culturalmente) como
mais importantes que os demais e, ainda mais além, na raiz das cosmologias
hegemonicamente vividas, as pessoas tendem a ver a si mesmas como o centro do
Universo, aquilo que dá sentido para a existência de tudo o que existe.
Ao se entender o mundo a partir de tal cosmovisão
egocêntrica, cria-se a impressão de que todo o Universo e, especialmente, nosso
planeta (incluindo-se aí os minerais, vegetais, animais etc.) existem apenas
para satisfazer as finalidades materiais e espirituais de cada indivíduo, e que
os processos naturais são, por consequência, sempre uma resposta consciente (de
bonificação ou penalização) aos comportamentos humanos: uma expansão do
egocentrismo e do antropocentrismo para escalas geológicas e astronômicas.
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