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Mostrando postagens de novembro 25, 2019

Ciência e Ética: reflexões sobre o legado de Charles Darwin (2009/2019)

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Preâmbulo           As partes 1 e 2 deste texto oriundas de uma revisão de um artigo escrito em 2009 e publicado originalmente na ANDA com o título "Darwinismo e veganismo: princípios para uma ética ecossistêmica". A parte 3 foi redigida em 2019. Introdução Parece-me inegável que o egoísmo, o hedonismo e o individualismo de nossa moralidade padrão representam afrontas à manutenção da vida e da qualidade da vida na Terra. Viver o mundo como se fôssemos entes isolados cujos interesses se resumiriam à busca de satisfação pessoal é, além de um ponto de partida ignorante, uma prática suicida e assassina. Apesar de características estruturantes da “natureza”, tais como a impermanência e a interdependência, serem facilmente observáveis, internalizá-las de modo a estruturarem nossos hábitos, nossos padrões de funcionamento mental, nossos túneis de realidade, incluindo aí nossa moralidade, gerando um distanciamento do egoísmo pautado unicamente pela autossobrevivência, parece não ser

Olhando para o chão: Manoel de Barros e Isaac Bashevis Singer

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“ É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira ” (Manoel de Barros) Em seus belos textos, Manoel de Barros constrói uma particular forma de olhar para o chão. Tentou, pela poesia, tornar a natureza algo encantado e dissolver fronteiras entre animais, plantas e ambientes. A sensação que nos passa é de um amante da natureza e seus seres, alguém que viveu para contemplá-la com carinho. Pois bem, Manoel de Barros, que orgulhava-se de ter podido vagabundar desde a meia idade até a avançada idade em que faleceu, assim vivia pois, no final dos anos 1950, herdou uma fazenda da qual tirava seu sustento criando gado. O poeta era um pecuarista . Escravizava e assassinava (ou vendia para que fossem assassinadas) as criaturas para as quais se atentava ( Eu fui aparelhado/para gostar de passarinhos ). Ou os bois e vacas não faziam parte de sua natureza? Em sua Gramática Expositiva do

Aritmética básica de uma tragédia (2019)

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Talvez seja impossível comparar ou matematizar sofrimentos. Podemos quantificar as vítimas, mas dificilmente matematizar o sofrimento em si. Para o ser vitimado por sofrimentos pesados, seu sofrimento é total, pleno: o ser se torna repleto de sofrimento. Assim sendo, com o intuito de não menosprezar qualquer sofrimento advindo de nossa natureza violenta e opressiva, escolhi não apresentar aqui quantificações sobre números de vítimas de processos de violência e opressão realizados por humanos contra humanos, mas apenas revelar a grandiosidade quantitativa da opressão e da violência das quais os animais não humanos são vítimas, considerando que tal sofrimento, perpetrado pelos humanos, é, comumente, socialmente ocultado. Vamos aos números: a humanidade abate aproximadamente 100 bilhões de animais terrestres e mais de um trilhão de animais aquáticos por ano apenas para o consumo de suas carnes. Ou seja, mais de um trilhão de seres capazes de perceber o mundo com algum grau de consciência

Proteína animal? (2019)

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Diz-se da carne: proteína animal. Usa-se o adjetivo com razão, pois nem toda proteína é animal. Logo, há formas de se ingerir proteínas que não dependem da criação e da chacina de animais. Opção há, mas, mais do que opção alimentar, a opção é moral. Em suma, o veganismo não é, primordialmente, uma opção alimentar. Trata-se, em essência, de uma opção moral. Para ser mais correto,  o veganismo não deveria ser entendido nem mesmo como uma opção, mas sim como uma obrigação moral, tal qual não matar o vizinho. Contudo, é aí, na moralidade, que a humanidade encontra suas mais duras resistências.

Sobre o conflito entre a ética e a natureza e a emergência de uma cosmologia compassiva e vegana

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   SOBRE O CONFLITO ENTRE A ÉTICA E A NATUREZA E A EMERGÊNCIA DE UMA COSMOLOGIA COMPASSIVA E VEGANA Olhando com desencanto para a natureza    Abro a porta de casa pela manhã e vejo uma nova teia de aranha no batente. Uma abelha jaz morta. A armadilha mortal, uma das infindáveis formas de matar disponíveis na natureza, novamente funcionou. Hoje haverá a ingestão do conteúdo interno da abelha, saciando a aranha, agora escondida por trás de um monte de seda no canto de sua teia e de minha porta. Eis a minha primeira morte do dia. A aranha, contudo, mal sabia o que lhe esperava. Neste mesmo dia, seria capturada por uma vespa, que depositaria um ovo dentro dela. Quando esse ovo eclodir, a larva se alimentará da aranha por dentro, ainda viva, até que morra. Outras vespas, contudo, procuraram lagartas (há muitas em meu quintal). Colocaram seus ovos dentro delas. Quando essas lagartas passarem para a fase de pupa, as larvas da vespa se desenvolverão se alimentando das ex-lagartas em metamorfos