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Desde que mudei para cá, minha nova
toca de concreto, preocupo-me com a existência daquele terreno baldio bem às
vistas de minha janela, sabendo já do interminável ruído que em breve será
minha vida nesta cidade em constante construção.
Nesta preocupação, digna da humana
arrogância, não vi.
Duas árvores, solitárias, em meio à
terra pelada, batida, exposta. Terraplanada como nossos sentidos.
Esta manhã – como que por uma
preparação cósmica, lendo De Profundis – invadiu minha sala um motor. Tentando
localizar o displicente motoqueiro, eis que vejo três homens. E sua serra.
Ao olhar, a primeira, já praticamente
decepada, revelou-me a tragédia da queda.
*
Ontem li que entre 1º de janeiro e 30
de abril, 12.187 árvores foram assassinadas em São Paulo. Mais duas.
Prossegue assim o processo de
empedramento da existência.
Como um exemplar da espécie, lamento.
De meu apartamento.
Quarta-feira, 1 de
junho de 2011
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