Adam: a militarização dos animais (2011)


Um animal que veste verde oliva, serve ao Exército e tem a cor marrom nos pés”. É assim que a Força Aérea Brasileira considera Adam, seu novo cão paraquedista, que realizou seu primeiro salto neste dia 18/11/2011[1]. Adam foi adestrado para realizar atividades como farejamento e patrulha, tendo sido já usado em operações militares como no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

No Brasil, praticamente todos nós, humanos do gênero masculino, ao completarmos 18 anos, somos obrigados a nos alistar no exército, experiência traumática para muitos, dada a aflição pela possibilidade de serem escolhidos.

Essa experiência massiva é comumente exposta, socialmente aberta, propagandeada por grandes meios de comunicação em seus típicos chamados de “jovem, entre para as forças armadas!”. Contudo, algo pouco citado é o alistamento obrigatório de animais de outras espécies. É clássico, conhecido por qualquer pessoa que estudou História ou já assistiu filmes que retratam batalhas antigas, o uso milenar dos cavalos em guerras e exércitos mundo afora. Hoje, tomei conhecimento de mais uma forma de escravizar animais para fins militares: o adestramento de cães para virarem paraquedistas.

A ideia de “interesse” é muito válida para analisar esse caso: quem somos nós, humanos, para passar por cima dos interesses específicos dos animais e transformá-los em peças a serviço de nossas necessidades - máquinas de produzir leite, máquinas de produzir lã, máquinas de produzir mel, máquinas de produzir carne, máquinas de detecção de drogas, máquinas de intimidação de suspeitos de crime, máquinas de transporte etc.?

Mesmo que seja impossível para mim, humano, saber exatamente qual o interesse de um cão, não me parece que seu sonho seja saltar de um avião nas alturas, farejar e caçar contraventores de uma lei que ele nem mesmo sabe que existe, caçar alguém que cometeu o grave delito de nascer em outro povo ou, quem sabe, usar seu corpo para testar terrenos e descobrir, com sua própria explosão, onde humanos ridículos deixaram granadas soterradas para estilhaçar membros de populações alheias.

Adestrar um cão para saltar de um avião, seja qual for o objetivo, é uma violência contra o cão, sua liberdade e seus interesses específicos. É obrigá-lo a servir aos interesses de membros de outra espécie.

Mesmo que cem por cento das pessoas vissem utilidade ou necessidade no trabalho forçado do cão, ainda assim seria uma violência injustificável e uma forma de escravidão.

O poder do Estado, portanto, estende-se sobre nossas vidas, sobre os animais (considerados propriedades a serem tutoradas) e sobre toda a natureza. Sua fome de poder não tem limites.

 


 



[1] Fonte: http://odia.ig.com.br/portal/economia/html/2011/11/forca_militar_o_cao_paraquedista_do_brasil_207221.html


Comentários