Geobusca

Geobusca

 I

Um perambulador urbano. Habitante de uma das maiores metrópoles do mundo. Amava perambular. Mas algo o incomodava. Algo não estava certo. Algo o perdia. Não que não soubesse os caminhos. Sempre perambulava pelos mesmos lugares. Sabia muito bem onde estava, mas estava perdido. Angustiantemente perdido. Estava, de fato, em seu lugar. Sua cidade. E se sentia parte dela. Sempre se sentiu, mesmo nos momentos de “um dia eu saio dessa cidade” ou de “chega, vou virar bicho do mato”. Mas ela parecia não fazer parte dele do mesmo modo que ele fazia parte dela.

Constantemente era tomado por sentimentos indefiníveis pela prosa científica.

Sua existência era preenchida pelo vazio e pela consequente tentativa de escondê-lo com um lenço de subterfúgios. 

II

Passo nove horas por dia deitado, doze sentado e três de pé. Ou algo próximo disto.

Há animais adaptados para cada ambiente. Vivo a cidade como um peixe fora d’água. Acho que me roubaram as brânquias e me obrigaram a comprar um pulmão. Mas, de fato, só o que me lembro é que sempre fui assim, pulmonar. 

E não plenamente adaptado.

III

Recuso-me a ser um ponto em um mapa, e recuso-me a tratar-vos como tal.

Eu estou aqui mesmo. 

E não estou muito bem. 

Estou aqui sentado e curvado sobre este computador. Estou aqui caminhando por esta calçada, esbarrando em milhares de pessoas, travado atrás de ti na fila do banco, recebendo tua fumaça de cigarro na cara, pisando em teu cuspe, correndo para entrar no ônibus. Aqui, com as mãos nos bolsos por não ter onde colocá-las.

IV

E tudo isso pra saber onde estou?


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