Violinos: entre a beleza e a tragédia (2020)



Um dos primeiros textos que publiquei sobre ética animal, em 2009, foi uma crônica chamada “A Vegana Arte de Apreciar Obras de Arte". Um dos assuntos ali abordados foi a presença de crinas de cavalo nos arcos dos violinos. O presente texto visa aprofundar tal assunto.

Recentemente, ouvi em um programa de rádio que tem como objetivo tirar dúvidas sobre música clássica uma explicação sobre a confecção dos arcos dos violinos. Quanto aos materiais, dois chamam a atenção: a madeira e as crinas. Não uma crina, mas um maço composto por diversos fios (cerca de 150 cerdas). Tais fios, com o tempo, vão arrebentando, até o momento onde a peça deve ser refeita usando mais um maço de crinas roubadas de cavalos escravizados e explorados (vale compartilhar que muitas crinas são obtidas de abatedouros, que retiram as crinas antes de assassinar os cavalos).

Além das crinas, aprendi nesse programa que a melhor madeira para fazer-se bons arcos é o Pau-Brasil, a árvore que simboliza o início de destruição massiva da mata no Brasil (claro que muitas transformações já haviam sido causadas nas matas pelos povos humanos aqui viventes antes da colonização moderna, mas não com o ritmo e profundidade do processo ocorrido a partir do século XVI, dado o poder técnico e a demanda crescente tanto para a exportação colonial, quanto, depois, pelos processos agrícolas, industriais e de urbanização).

Em suma, uma bela obra tocada com violinos reúne em si mesma um símbolo da destruição ambiental e um exemplo da exploração dos animais. Ambos os casos associados também com processos de escravidão.

Essa capacidade de unir em um mesmo ato, com tranquilidade, a mais sutil beleza e a mais cruel violência aponta para uma definição precisa de nossa espécie.




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